A convergência midiática está
reformulando comportamentos. Gente aos milhares milhões buscam ingenuamente
a fama, esperado assim o belo lugar ao sol. A busca desenfreada pela notoriedade
descarta valores, ideologias e privacidade. Que importa, ausência de talento,
beleza ou estudo! Existem uma serie de industrias publicitárias que moldam a
figura humana ao gosto das massas. Editam a voz, o corpo, as falas. Outrossim,
redefinem figurino. E aquele(a) figura tosca do Youtube, aparece por um breve
instante nos canais abertos e nas mídias sociais, para logo ser substituído por
outro(a), tão tosco quanto ele(a). A celeridade digital descarta tão rápido
quanto aprova, mas ainda assim há que dê audiência. Haters Back Off, série do Netflix, criada
por Coleen Ballinge discursa
sobre a expectativa do estrelato e o mundo real.
Miranda Sings (interpretada
pela própria Coleen Ballinger), julga que fará sucessos no mundo inteiro ao
gravar vídeos no Youtube. Incentivada por seu Tio, sua Mãe e o vendedor de picolés
do bairro; Miranda assume a postura de ser talentosa e cobiçada. Apenas sua irmã Emily (Francesca Reale), é ancorada na realidade, tal qual o Sancho
Pança, que lidavacom os delírios do Dom Quixote (serve também como alusão
a srta. Sings). Enfim, após Miranda postar os vídeos, recebe comentários
hostis, daí o título da série.
Recentemente, reli
a poética aristotélica, e pude perceber o quão atual é a sua crítica. É
evidente, que ela está voltada para o Teatro Grego, todavia, ela atravessou a história
e até hoje é usada como modelo para resenhas de Teatro e sua evolução (como Cinema
e séries). Haters Back Off se apropria do conceito de mímesis trazido por Aristóteles. Ora, não
é restrito a imitação, também a verossimilhança. A série argutamente aponta na contemporaneidade
essa conduta narcísica excessiva, de querer se ver e se mostrar a todo instante
por meio das mídias. E há na protagonista um exagero de maquilagem que mais
parece uma máscara. E mais uma vez vemos elementos do Teatro Antigo. No teatro
Antigo um dos elementos era a máscara, esta que exibia a fealdade, o ridículo.
Para Aristóteles, o exagero dessas deformidades, mostravam a ação dos homens
inferiores, defeituosos e ingênuos (Tal qual Miranda Sings e seus familiares
caricatos). A feiura era aquilo que trazia risos. Era o contrate do símbolo apolíneo
de perfeição.
É bem verdade que a sitcom
não traz grandes interpretações, tampouco um roteiro genial. O que julgo
louvável é originalidade e coragem de escarnecer de pseudos-artistas, muitos
deles dentro do próprio catálogo VoD. Aos diminutos leitores deste blog – se der
vejam Haters Back Off.
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